A ARTE DA LUTA: NATUREZAS, CULTURAS, TERRITÓRIOS E MODOS DE VIDA TRADICIONAIS NO VALE DO RIBEIRA
Palavras-chave:
Arte da luta, Sociobiodiversidade, Povos e Comunidades Tradicionais, Conflitos Socioambientais, Vale do RibeiraResumo
A luta de povos e comunidades tradicionais também se traduz em arte. No Vale do Ribeira, região ao sul do estado de São Paulo, mais de 100 povos indígenas e comunidades tradicionais quilombolas, caiçaras e caboclas compõem mosaico de sociodiversidade responsável pela existência e integridade de naturezas, ecossistemas e territórios que formam o maior corredor contínuo de Mata Atlântica do Brasil. A região, por isso, é alvo e palco de conflitos socioambientais históricos e atuais que produzem violências e ameaças contra povos e comunidades tradicionais que vivem e resistem em territórios ricos em cultura e biodiversidade. O artigo que se pretende desenvolver apresentará e analisará 03 obras que transformam em arte dimensões fundamentais das lutas e dos modos de vida plurais de povos e comunidades tradicionais da região do Vale do Ribeira. A cosmovisão indígena está representada pela fala sagrada, profética e poética do Cacique Timóteo da Silva Verá Tupã Popygua, Guarani Mbya da Tekoa Takuari (Eldorado/SP). Na obra Yvyrupa, A Terra Uma Só, publicada pela Editora Hedra em 2017, a origem, os tempos e ciclos do mundo, dos seres, da natureza, da humanidade e das fontes de vida protegidas pelos guardiões divinos são narrados pelas belas palavras, um símbolo da pluralidade e da potência de existências sem cercas nem fronteiras que caminham e circulam por Yvyrupa, o grande jardim de Nhanderu. A celebração e a afirmação do modo de vida tradicional estão presentes na exuberante e colorida obra Roça é Vida, escrita a várias mãos por lideranças quilombolas e aquilombadas das Comunidades de Ivaporunduva e São Pedro (Eldorado/SP), com a colaboração de quilombolas de outros territórios tradicionais de todo o Vale do Ribeira. Fruto de mobilizações em torno da valorização da roça tradicional de coivara como prática ambiental e cultural essencial para a segurança e soberania alimentar, o livro, publicado em 2020, integra o processo de salvaguarda do Sistema Agrícola Itinerante das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira como patrimônio cultural brasileiro reconhecido em 2018 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A luta por reconhecimento étnico e pelo território tradicional é cantada e contada por passarinhos e pelo brincar livre do caiçarinha Martim. Traduzido por Edmilson de Lima Prado, escrito e ilustrado por Karina Ferro Otsuka, o livro infantil Pia o Pio, Pia Martim, publicado no ano de 2021, foi tecido no Território Caiçara do Rio Verde (Iguape/SP), centro de graves conflitos socioambientais, a partir do olhar amoroso da mãe e do pai do neném fogueta Martim, caiçara criado no mato. A proposta do texto é, através da leitura e exposição das 03 produções artísticas selecionadas, entender e debater conflitos socioambientais que violentam e ameaçam povos e comunidades tradicionais no Vale do Ribeira e aprender com as experiências de luta e resistência transmitidas pela sensibilidade poética e literária que as obras oferecem.