MULHERES EM TEMPOS DE PANDEMIA

UMA ANÁLISE ANTROPOLÓGICA SOBRE MULHERES EM CONTEXTO DE VULNERABILIDADE SOCIAL

Autores

  • Elizangela Ferreira da Silva Paz UFPB / DOUTORANDA

Palavras-chave:

mulher; naturalização da violência; silenciamento.

Resumo

Este artigo faz parte da pesquisa de doutorado em andamento e tem por objetivo principal identificar os principais motivos que ocasionam a evasão escolar para as mulheres e dialogar sobre as exigências e expectativas sociais que pesam sobre as mesmas em relação aos papéis que desempenham na sociedade. A partir da descrição de vivências de um grupo de mulheres que compõe a comunidade do bairro dos Ipês o trabalho discute as formas de naturalização social da opressão e da violência contra a mulher. Apresenta as tensões vividas por estas mulheres no campo dos estudos do trabalho e do gênero evidenciando a interdependência das relações sociais de raça, sexo e classe, marcados pelo conceito de interseccionalidade. Através de uma perspectiva situada da análise dos elementos de convivência proporcionados pelo ensino remoto, durante o período de isolamento causado pela pandemia da covid 19, este trabalho propõe analisar as relações de gênero, de raça e de classe na vida destas mulheres envolvendo sua atuação no campo do cuidado com a família, no cotidiano do lar, na conciliação da rotina dos seus empregos ao papel que desempenham de mantenedoras da casa e toda carga emocional advinda da sobrecarga de funções que aparecem imbricadas nessa teia de relações sociais. A pesquisa está sendo realizada através do método etnográfico convivendo com as mulheres da pesquisa no ambiente escolar da Educação de Jovens e Adultos, bem como na convivência de alguns trajetos comuns as mulheres da pesquisa pela comunidade em que vivem. Os primeiros resultados da pesquisa que venho desenvolvendo com um grupo de mulheres, de uma comunidade do Bairro dos Ipês, situado na cidade de João Pessoa, capital da Paraíba. As mulheres que fazem parte deste estudo são aquelas que vivem em situação de pobreza e consequentemente se encontram mais vulneráveis à violência doméstica, as desigualdades sociais, de gênero, etnia e classe social. São mulheres pobres, com baixa escolaridade, que possuem jornadas laborais exaustivas no ambiente doméstico, submetidas a empregos informais, a discriminação de gênero, de cor e, não menos importante, a violência “naturalizada” nas relações conjugais. Desse modo, pensar os processos de violência e opressão desses grupos de mulheres que, vale ressaltar, são constituídas na sua maioria de mulheres negras, procurei uma aproximação conceitual do termo de interseccionalidade, quando compreende que a subordinação das mulheres negras não incide apenas nas estruturas de uma herança maldita escravocrata ou contemporaneamente a desigualdade de gênero, mas a uma teia de fenômenos interdependentes e historicamente forjados para a manutenção da opressão, caso do machismo, racismo, sexismos, entre outras que perpetram formas de dominação e repressão às mulheres, sobretudo as mulheres negras. Não obstante, entendo que estas estruturas, que também são de poder, como nos fala Foucault (1979), pois implica no exercício de controle e dominação de uma pessoa ou grupo que é subordinado aos imperativos da ação disciplinar e coercitiva, não são dissociados de uma perspectiva interseccional.

Publicado

03.10.2023

Edição

Seção

SIMPÓSIO On83 - MULHERES: RESISTÊNCIAS, LUTAS E MEMÓRIAS