CHINA COMO LÍDER GLOBAL EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
REPERCUSSÕES ÉTICAS, SÓCIO-TÉCNICAS E GEO(POLÍTICAS) PARA O MUNDO
Palavras-chave:
CHINA, DEMOCRACIA, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, PRIVACIDADE, VIGILÂNCIAResumo
O presente trabalho tem como objeto de pesquisa e visão prospectiva a liderança do mercado global de Inteligência Artificial (IA) pela República Popular da China, em um futuro próximo. Acompanhando o argumento de autores como Kai Fu-Lee, em seu livro AI Superpowers: China, Silicon Valley, and the New World Order, que, em breve, aquela ultrapassará a liderança da IA pelos Estados Unidos da América (EUA). Assim, questiona quais seriam as repercussões práticas da liderança chinesa para o mundo. Sobretudo seus impactos éticos, sociotécnicos e geo(políticos) para o Sul Global; principalmente entre os demais países em desenvolvimento que nela se espelham. Traz, assim, como relevância temática, o fato de a região já firmar parcerias estratégicas com a China, podendo a tomar também como modelo (benchmarking) e/ou referência de boas práticas internacionais em termos de governança digital. A justificativa, por sua vez, está no fato de que, recentemente, vários países latino-americanos têm apresentado suas políticas e/ou estratégias nacionais de IA. E, na falta de um modelo próprio ou mais estruturado de governança no setor, poderiam, então, seguir ou replicar o mesmo receituário do desenvolvimento tecnológico chinês. Quebrando, portanto, o tabu da liderança tecnológica pelo chamado mundo desenvolvido, sobretudo de hegemonia histórica das epistemologias do Norte Global. Quanto aos objetivos, primeiramente, apurar, a partir da liderança do mercado de Inteligência Artificial pela China, se a governança dos demais países tornar-se-ia mais opaca e autocrática. E, por conseguinte, menos democrática. Sobretudo em razão de sistemas automatizados de decisão, de recomendação algorítmica por IA e de vigilância chineses que, em seu atual estágio de aprendizado, ainda carecem de maior transparência, auditagem e explicabilidade em seus processos decisórios. E, secundariamente, se a suspeição em torno do modelo chinês se trata, na verdade, de mera especulação. A metodologia utilizada na realização da pesquisa é a indutiva comparativa, a partir do estudo de casos de outros países, tais como EUA, Japão e Reino Unido; por meio da contraposição de diferentes modelos estrangeiros de regulação tecnológica da IA. As hipóteses iniciais são no sentido de que há muito alarmismo infundado, sobretudo pela resiliência do “solipsismo”; isto é, o equívoco em ainda fazer comparações culturais e estudar a Ásia a partir de um referencial ocidental. Visto que a China Contemporânea amadureceu em termos de proteção de dados e privacidade, possuindo até mesmo um capítulo inédito dedicado ao tema em seu mais recente Código Civil. Por fim, os resultados parciais obtidos vão no sentido de que esta nova realidade de governança digital independeria de sistema ou regime de governo vigente. Seja chinês ou estadunidense (ocidental). E o que irá determinar se haverá ou não uma governança ética e mais responsável pela Inteligência Artificial, está no modo como haverá a coleta e o processamento de dados - se de modo mais opaco ou transparente - procedimentos que são a base principal de operação da IA.