EDUCAÇÃO EMPÁTICA E COMPASSIVA PARA COM TODOS OS SERES VIVOS

COLOCANDO EM EVIDÊNCIA A DECLARAÇÃO COSMOPOLITA DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS

Autores

  • Deborah Regina Lambach Ferreira da Costa PUC/SP

Palavras-chave:

EDUCAÇÃO; CRIANÇAS E ADOLESCENTES; ANIMAL; ANTROPOCENTRISMO

Resumo

As crianças e adolescentes são educados em uma visão antropocêntrica que se descura da importância da natureza e dos animais na socialização. Recebem educação formal sobre o “bem-estar” animal, construída na empatia cultivada em família, na escola e na mídia, que não questiona a moralidade do uso funcional de outros animais, que encobre as práticas violentas da exploração animal. Essa dominação se constrói sobre a perspectiva da criança, reduzindo a sensibilidade dessas práticas ao mesmo tempo que se cultiva empatia nas relações com animais de companhia, como brinquedos ou personagens da literatura infantil. A grande maioria dos animais explorados – e no momento em que são mortos para alimento e consumo humano – são filhotes, fato assiduamente expurgado da experiência infantil, como práticas exploratórias são geralmente removidas do cotidiano. As pessoas, desde a infância, sabem que os animais têm sentimentos, mas “suprimem” esse conhecimento quando chegam à fase adulta. A senciência tem sido critério para incluir os animais na comunidade moral e para educar as crianças e adolescentes a compreender que os animais são sujeitos morais, têm dignidade própria e direitos fundamentais invioláveis à vida e à florescer nas suas capacidades naturais, independente de sua função ecológica. Martha Nussbaum sugere que os países incluam nas suas constituições e declarações de princípios o reconhecimento dos animais como sujeitos de justiça política, se comprometendo a reconhecê-los como detentores do direito a uma existência digna. O presente estudo perpassa por questões éticas e tem como objetivo provocar a necessária reflexão acerca da educação que as crianças e adolescentes têm recebido, na família, na escola e no convívio social, no que diz respeito às questões afetas ao mundo em que vivemos e nossa interação com os animais e a natureza. A pergunta que se propõe é se as futuras gerações estão sendo educadas para, cada vez mais, alargar o círculo de compaixão e empatia para com os animais e todos os seres vivos ou, em uma visão “humanocentrada”, estão perpetuando o utilitarismo. Queremos crer que a percepção de que somos seres empáticos e compassivos pode impactar positivamente na família, na sociedade e no planeta. A metodologia realizada foi uma revisão bibliográfica integrativa. Como resultado, verificou-se que as amplas transformações sociais – a abolição da escravidão, o desaparecimento da sociedade de classes, a melhoria do status das mulheres, a tolerância a estilos de vida que foram violentamente perseguidos no passado – trazem a esperança de que o que antes era considerado um dado universal e incontroverso possa ser questionado e substancialmente reformado. A ética animal tem desempenhado um papel importante nesse processo. A vulnerabilidade dos animais não humanos, os desastres ecológicos e a pandemia do Coronavirus-19 trouxeram à tona a urgência da criação de alternativas para que mudemos de via, para que possamos conviver com todas as formas de vida nesse planeta. A elaboração de uma Declaração Cosmopolita, como proposto por Boaventura de Sousa Santos, por exemplo, seria uma alternativa para um bem-viver, em que aos direitos humanos se somariam os direitos da natureza.

Publicado

03.10.2023

Edição

Seção

SIMPÓSIO On61 - EFETIVIDADE DOS DIREITOS HUMANOS PELOS DIÁLOGOS DE FONTES