GÊNERO, RAÇA E CLASSE NA MAGISTRATURA CRIMINAL

ASPECTOS RELACIONADOS À PRESENÇA E ATUAÇÃO DE MULHERES

Autores

  • Priscila Coelho FG DIREITO SP

Palavras-chave:

mulheres na magistratura criminal;, mulheres magistradas;, gênero, raça, classe e atuação judicial;, magistratura, raça, classe e gênero;

Resumo

este resumo apresenta alguns aspectos que estão sendo explorados em uma pesquisa de doutorado em andamento, cujo objeto é o exercício da magistratura criminal por diferentes perfis de mulheres. A pesquisa possui como pressuposto teórico o questionamento sobre a construção e aplicação do direito como um saber neutro e livre de interesses, ao invés de algo “socialmente construído e socialmente constituído”, que “reflete as visões de mundo e os significados escolhidos por aqueles que tiveram o poder de determinar definições e criar termos”, ou seja, “homens brancos, estudados e economicamente privilegiados”. (Finley, 1989, p. 887-892) Sendo um saber construído por um perfil muito específico e exercido por muito tempo quase que exclusivamente por essas mesmas pessoas, a pesquisa se justifica pela possibilidade de compreender como ocorre a presença de diferentes perfis de mulheres ocupando esse espaço. A escolha pela atuação no campo criminal decorre da correlação deste ramo do direito com estereótipos que normalmente são relacionados ao ‘masculino’, fornecem respostas punitivas e encarceradoras, associadas com uma postura de ‘neutralidade’ que desconsidera princípios centrais para o direito criminal, como a individualização da pena. Neste contexto, investigar a presença de um perfil que diverge do padrão privilegiado pode auxiliar a compreender como/se a diversidade é capaz de promover mudanças institucionais e de quais tipos elas seriam. A escolha por observar especificamente a atuação criminal também se justifica pela ocupação do Brasil como terceiro país do mundo que mais encarcera. Além disso, é importante destacar o perfil dessa população prisional, majoritariamente formada por homens (95,71%), jovens (60,65%), com baixo nível de escolaridade (46,66% possuem ensino fundamental incompleto) e negros (67,2%). A pesquisa busca investigar como marcadores de gênero, raça, classe e idade se relacionam e se manifestam em questões cotidianas, que são repetidas ao longo do tempo, e que acompanham a prática criminal exercida por mulheres. Outra questão a ser destacada é a análise do perfil destas mulheres e a expressiva sub-representatividade de mulheres negras na magistratura. A metodologia inclui análise qualitativa e realização de entrevistas semiestruturadas com juízas de diferentes perfis. Pretendo observar mecanismos institucionais que limitam, suprimem ou controlam a presença e atuação dessas mulheres dentro de um espaço de poder predominantemente masculino. Tendo em vista as particularidades que atingem de maneiras diferentes as experiências e o tratamento que é dispensado a pessoas negras em um país onde o racismo estrutural e cotidiano é reiteradamente negado, o desenvolvimento da pesquisa tem considerado compreender quais são as especificidades que atingem magistradas negras. Os resultados preliminares das entrevistadas realizadas até o momento, que pretendo apresentar no simpósio, indicam uma expressiva diferença na experiência, trajetória e violências relatadas por magistradas brancas e negras, além de indicaram uma possível relação entre vivências permeadas por desvantagens sociais, com uma atuação mais preocupada com questões sociais, a partir da externalização de um olhar mais humano sobre a pessoa selecionada pelo sistema de justiça criminal. Gostaria de discutir os resultados preliminares da pesquisa neste simpósio, bem como as possibilidades de análise do material empírico coletado.

Publicado

03.10.2023

Edição

Seção

SIMPÓSIO On60 - RACISMO ESTRUTURAL E NECROPOLÍTICA