MULHERES QUE DIALOGAM COM HOMENS AUTORES DE VIOLÊNCIA

UM ESTUDO SOBRE AGÊNCIA INTERSECCIONAL

Autores

  • Carla Magliano Universidade de São Paulo

Palavras-chave:

AGÊNCIA INTERSECCIONAL; MARCADORES SOCIAIS DA DIFERENÇA; GRUPOS REFLEXIVOS; GÊNERO.

Resumo

As políticas de enfrentamento à violência contra a mulher, além do acolhimento à  mulher em situação de violência, preveem modos de responsabilização dos autores dos atos violentos. Os grupos reflexivos para homens autores de violência são programas de responsabilização que têm se expandido enquanto uma resposta institucional no Brasil. Os grupos, voltados a homens autuados pela Lei Maria da Penha encaminhados pelo sistema de justiça, propõem reflexões sobre a construção de masculinidades, forjadas ante uma naturalização de comportamentos violentos, e também possibilidades de modos não-violentos de existência, com o objetivo de interromper ciclos de violência nas relações interpessoais dos homens participantes. As discussões dos grupos são guiadas por profissionais facilitadoras/es, cujo papel é o de assegurar o foco no objetivo da intervenção e manejar situações que possam gerar obstáculos a isso. Essa pesquisa, que se encontra em fase de análise dos dados, ancora-se na discussão recorrente na literatura específica sobre os efeitos dos marcadores de gênero dos profissionais facilitadores em cena. Os estudos costumam desvelar a agência de facilitadores homens, que utilizam de suas masculinidades como um modo de aproximação dos homens atendidos. Já se tratando das mulheres facilitadoras, é comum que sejam focadas as dificuldades específicas. Considerando que: 1. há diversas mulheres atuando como facilitadoras, 2. os grupos reflexivos ainda são escassos frente à necessidade e que todos os esforços de construção são válidos e que 3. as intervenções mostram-se bem sucedidas, independentemente dos marcadores de gênero dos facilitadores, essa pesquisa têm sido construída com o objetivo de compreender os efeitos da presença feminina no trabalho de facilitação, e assim, trazer ao centro do debate as estratégias que as mulheres facilitadoras têm utilizado em seu ofício. Foram realizadas entrevistas narrativas com quatro mulheres que atuam ou já atuaram como facilitadoras. Os resultados parciais confirmam a hipótese inicial de que os marcadores de diferença de gênero produzem diferentes efeitos na dinâmica dos grupos. A presença das mulheres como facilitadoras pode gerar impactos psicológicos específicos, tanto aos homens atendidos, comumente incomodados por estarem frente a essas mulheres (lidas como defensoras da classe “mulher”), quanto às profissionais, psicologicamente afetadas pelas difíceis falas e comportamentos performados pelos homens nesse ambiente. A noção de agência interseccional é elencada nesse debate para pôr em evidência as possibilidades dessas trabalhadoras de se apropriarem de seus próprios marcadores sociais como uma ferramenta estratégica de trabalho, gerando possibilidades de manejo das dificuldades.

Publicado

03.10.2023

Edição

Seção

SIMPÓSIO On91 - ACESSO À JUST. E RESP. JURÍDICO-INST. NO ENF. VIOL. CONT. MULHER