LÍNGUAS DO SUL

ENSAIOS SOBRE AS RUPTURAS E CONSTRUÇÕES DE LINGUAGENS DAS JUVENTUDES QUEER NAS ESCOLAS

Autores

  • Luiz Guilherme Carvalho Leonardo UNESP

Palavras-chave:

RUPTURAS; EPISTEMOLOGIAS; JUVENTUDES; LGBTQIAPN ; ESCOLA.

Resumo

– Quem defende a “Criança Queer”? – perguntei ao grupo de estudantes. – As próprias crianças queer – me respondeu uma voz vinda do meio de um grupo que davam as mãos e se entreolhavam, como se reconhecessem uns nos outros a potência de existirem ali. Pesquisando movimentos dos estudantes LGBTQIAPN+ reivindicando sua autodeterminação nas escolas, percebo, dialogando com as últimas discussões de Paul B. Preciado (2021; 2022a e 2022b), processos que estão nebulizando as categorizações do regime sexual e das políticas de identidades e colocando-as como subalternas a existência humana. Tal mobilização política das juventudes não surge sem resistência por parte das instituições normalizadoras das subjetividades/discursos/corpos. Busco escutar movimentos e sujeitos, não objetos de pesquisa, para ensaiar onde se estabelece o entre-lugar no chão da escola que permite alojar essa possível ruptura epistemológica. Pretendemos a/r/tografar, (Dias, 2013), coletivamente se esse movimento de estudantes LGBTQIAPN+ está produzindo abalos estruturais nas normas de organização das escolas e se isso acarreta mutações nesta instituição de disciplinarização de corpos e subjetividades. Contudo, escuto enquanto professor que esses estudantes não sabem o que dizem, que é “modinha” e que não há maturidade para “decidir isso”. Vejo que a resposta para a mobilização desses estudantes é a violência do silêncio, não permitir que tenham referências e muito menos potência criativa. Porém os movimentos necroescolares não conseguem colonizar o desejo desses estudantes em sobreviver e criar rotas de vida autêntica. É nas rachaduras do chão das escolas, nos esconderijos dos pátios, que eles se encontram, se transformam em coletivo e começam a desenhar juntes uma revolução transicional de epistemologias dentro da primeira ferramenta do estado para o controle das subjetividades (PAUL, 2021). As linguagens que os estudantes LGBTQIAPN+ constroem apontam rupturas epistêmicas ao reconhecer que os discursos são ferramentas, portanto mutáveis, e não engrenagens pétreas. Dessa maneira, exige-se uma nova maneira de decodificar o mundo, novos sentidos. A juventude LGBTQIAPN+ auto-valida a produção de uma nova geração que crítica as anteriores por terem construído um sistema de falências necropolítico, (Preciado, 2022b). Pretende-se construir espaços de reconhecimento da potência deste movimento estudantil através de processos coletivos em arte-educação e ensaiar com esta juventude se seus corpos, subjetividades e autodeterminações podem ser lidos como uma ruptura epistemológica. Ao propor uma pesquisa a/r/tográfica (Dias, 2013), me responsabilizo por produzir junto aos estudantes LGBTQIAPN+ um interesse por “um mundo de intervalos tempo/espaço, em espaços liminares, terceiros espaços, entre-lugares”, (Dias, p.25), pois a “A/r/tografia é: móvel momentânea, busca intensidade na transitoriedade” (Idem, p.25). Gostaria, por fim, de convidar Paul Preciado (2022a, pp. 84 - 85) para dialogar com as pesquisas em educação: vocês têm uma enorme responsabilidade. Cabe às senhoras e senhores decidir se querem permanecer ao lado dos discursos patriarcais e coloniais e reafirmar a universalidade da diferença sexual e da reprodução heterossexual ou entrar conosco, os mutantes e os monstros deste mundo, em um processo de crítica e de invenção de uma nova epistemologia que permita a redistribuição da soberania e o reconhecimento de outras formas de subjetividade política.

Publicado

03.10.2023

Edição

Seção

SIMPÓSIO On53 - MINORIAS SEXUAIS E DE GÉNERO