PLURALISMO JURÍDICO COMUNITÁRIO E FEMINISMO DECOLONIAL

A ATUAÇÃO DAS MULHERES INDÍGENAS DO ALTO RIO NEGRO, NO ESTADO DO AMAZONAS, CONTRA A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.

Autores

  • Anni Marcelli Santos de Jesus PUC-Minas

Palavras-chave:

Feminismo decolonial, Pluralismo jurídico comunitário, Promotoras legais, AMIARN, Violência doméstica

Resumo

Esta pesquisa se concentra na análise da violência doméstica contra mulheres indígenas, com ênfase nas mulheres indígenas do Alto Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira, e destaca o papel das "Promotoras Legais", um projeto da Associação das Mulheres Indígenas do Rio Negro (AMIARN). Partimos dos pressupostos de que a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), embora seja uma conquista importante dos movimentos feministas, não contempla adequadamente a diversidade cultural das mulheres indígenas no Brasil, e que é necessário encontrar maneiras eficazes de combinar essa lei ao enfrentamento da violência doméstica, como fazem as "Promotoras Legais" da AMIARN, que atuam de forma pluralista junto às mulheres indígenas. A abordagem metodológica aqui utilizada é bibliográfica, destacando conceitos da perspectiva decolonial, como o feminismo decolonial e o pluralismo jurídico e os dados foram coletados a partida da metodologia escuta etnográfica. A relevância do estudo reside na necessidade de compreender e interpretar os dados sobre violência doméstica, que mostram que, apesar do objetivo da lei de proteger todas as mulheres contra a violência doméstica, a Justiça não alcança a realidade das mulheres indígenas. Além disso, as comunidades e movimentos indígenas em todo o Brasil não possuem um modelo unificado de enfrentamento à violência doméstica, o que a AMIARN – Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro procura abordar e compreender. Os resultados preliminares da pesquisa indicam dificuldades na documentação dos casos de violência doméstica contra mulheres indígenas do Alto Rio Negro. Sugere-se que o controle estatístico por etnia seria importante para compreender melhor as especificidades desse cenário, já que cada comunidade possui concepções e realidades distintas em relação à violência doméstica. A Lei Maria da Penha, nesse contexto, é considerada lacunar e genérica. A atuação dos movimentos sociais indígenas ajuda a proporcionar uma visão mais clara dessas realidades plurais e a apresentar alternativas que contribuam para a aplicação da lei. Conclui-se que a violência doméstica é um fenômeno complexo que não foi totalmente compreendido pelo direito, devido às heranças coloniais e, por isso se requer abordagens diferenciadas e mais eficazes para enfrentar essa realidade. É fundamental reconhecer que as concepções de violência doméstica contra mulheres e o acolhimento adequado das mulheres indígenas, bem como o tratamento dado ao agressor perante a justiça ou mesmo, perante à própria comunidade envolvida, que nem sempre encontram amparo na legislação atual ou mesmo no procedimento policial, fazendo com que essas mulheres busquem meios alternativos para lidar com o problema.

Publicado

03.10.2023

Edição

Seção

SIMPÓSIO On132 - DIREITO DO TRABALHO, FEMINISMO DECOLONIAL E ANTIRRACISMO