EM UMA SOCIEDADE DE MORTE, VIVER É DESOBEDIÊNCIA CIVIL:ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO NEGRA E A NECROPOLÍTICA
Palavras-chave:
necropolítica; envelhecimento; população negra; racismo estrutural.Resumo
Este estudo consiste em analisar como os fatores históricos, frutos do período da escravização e desigualdade sociorracial no Brasil, influenciam o processo de envelhecimento para diferentes grupos sociais, cujo recorte se refere à questão racial. O percurso metodológico foi construído por meio de pesquisa teórica documental e as análises por meio do materialismo histórico dialético. O envelhecimento abordado em uma perspectiva social é uma realidade que tem chamado atenção nos últimos anos, visto que sempre fora pautado em um viés voltado para área da saúde. De acordo com censo realizado em 2010 no Brasil, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a expectativa de vida da população negra no Brasil vem aumentando, entretanto, ainda é menor do que a da população branca. O racismo estrutural presente na sociedade brasileira afeta diretamente o processo de envelhecimento da população negra de diversas maneiras, principalmente na falta ou precarização do acesso às políticas sociais. De acordo com as análises realizadas e referenciadas nas obras de Achille Mbembe e Abdias Nascimento essa é a forma que o Estado tem estrategicamente estabelecido a necropolítica, sendo a população negra quem diariamente e historicamente tem sofrido com tal fato. Portanto, para a compreensão da dinâmica social vivenciada pelas pessoas idosas negras no Brasil é necessário remeter ao processo sócio-histórico da construção da sociedade brasileira desde o início do século XV, se torna indispensável compreender as bases para a constituição da federação brasileira sem remeter ao processo de escravização e genocidio da população negra e indígena à qual os objetivos eram obter mão de obra de maneira extremamente violenta para a construção da economia brasileira. O açoitamento gerou marcas físicas, psicológicas e sociais que não foram saciadas em 13 de maio de 1888 e a população, inclusive a que exclusivamente envelhece, vive e sente de forma violenta as marcas que a escravidão deixou. Deste modo, os resultados apresentados buscam uma nova perspectiva do envelhecimento pautada na formação sócio-histórica brasileira na qual fatores intrínsecos influenciaram na taxa de mortalidade da população negra, tendo um viés de consequências no seu modo de viver e envelhecer.