POR UMA PARIDADE DE ARMAS E ÉTICA NO USO POLÍTICO DO BIG DATA

QUESTÕES QUANTO AO USO ÉTICO E TRANSPARENTE DA SOCIOLOGIA RELACIONAL NAS ELEIÇÕES

Autores

  • João Vargas Leal Júnior UFSC

Palavras-chave:

SOCIOLOGIA; RELACIONAL; ELEIÇÕES; INFORMAÇÃO; TRANSPARÊNCIA

Resumo

O problema inicial é se o uso da big data e o direcionamento de elementos influenciadores a partir desta big data estão sendo críticos para a mudança de votos tidos como consolidados, vez que, para tanto, está-se usando de elementos capazes de influenciar o íntimo dos eleitores a partir dos dados que partilham na rede, o que pode ter determinado a eleição de Trump nos Estados Unidos, como são indícios  a eclosão da questão das fake news e o escândalo da Cambridge Analytica, e ainda após uma eleição com características semelhantes de Bolsonaro no Brasil, resultando nas discussões sobre o Projeto de Lei das Fake News. Assim, a hipótese é que a sociologia relacional, como proposta por Pierpaolo Donati, não só revolucionou a sociologia clássica como dotou a análise sociológica de mecanismos, operados pela supercomputação a partir do big data, que permitem envio de informações e propagandas específicos a cada indivíduo ou grupo, de modo a que, a partir de anseios e receios individual e relacionalmente  identificados, sejam mudados caracteres e tendências  tidos como certos. A sociologia relacional, assim, está para a sociologia tradicional, como proposta por Durkheim, como a meteorologia atual está para a tradicional. Enquanto antes o clima quase não podia ser previsto, hoje os meteorologistas contam com inúmeros dados atmosféricos e oceânicos automaticamente alimentando supercomputadores que podem prever, com razoável certeza, o momento em que uma tempestade ou furacão irá se formar e alcançar alguma região, emitindo alertas com dias de antecedência. Este conjunto de dados seria impensável que fosse obtido antes da disseminação das redes sociais na Internet. Mas, hoje, é possível coletar tais dados, tratá-los e usar legiões de contratados o mais das vezes inatingíveis para fins penais, para alcançar apoio ou mesmo mudar uma tendência política. Nesse sentido, a questão do ângulo jurídico é que os próprios usuários, praticamente todos, autorizam o compartilhamento dos seus dados, incluindo preferências de compras, políticas e o conteúdo que geram.  Daí, o objetivo é demonstrar que um princípio de informação política pode demandar normas de transparência que alertem o cidadão, como consumidor político, dessa tendência. E que permitam aos players políticos atuarem de acordo com um patamar ético novo, que considere a inevitabilidade dessas práticas. Então, em um sentido de amplitude de informação política, a questão não é a de meramente controlar as fake news como o PL brasileiro pretende, mas a de se é possível usarmos o mesmo método analítico para orientar os recursos partidários de uma forma a, como resultado, permitir o uso desses metadados de forma igualitária pelos players, de modo também transparente, podendo cada um ter acesso às conclusões dos outros, assim como às pesquisas de intenção de voto que  hoje têm que ser registradas no tribunal eleitoral. E, do mesmo modo, cabe considerar valores de princípios exsurgentes de fraternidade e empatia, tais como os da acolhida humanitária de imigrantes, postos na atual Lei de Imigração brasileira, para verificar a possibilidade de proscrever resultados negativos à consecução desses valores da parte do eleitorado.

Publicado

03.10.2023

Edição

Seção

SIMPÓSIO P04 - DEMOCRACIA, PARTICIPAÇÃO SOCIAL E POLÍTICAS PÚBLICAS