DESINFORMAÇÃO SOBRE A CRISE HUMANITÁRIA DOS YANOMAMIS
UMA NOVA FORMA DE CONQUISTA COLONIAL?
Palavras-chave:
Desinformação, Yanomamis, Conquista, Aceleração Social, SilenciamentoResumo
O constante aprimoramento das tecnologias da informação, aliado ao crescente papel das mídias sociais na coletividade, evidencia uma sociedade contemporânea altamente conectada em redes, na qual o volume e a velocidade da circulação de informações atingiram patamares sem precedentes. Esse cenário é um dos aspectos que evidencia a construção de um regime temporal fundado na aceleração social, no qual, apesar da ampliação do acesso à informação, observa-se a tendência cultural de limitação dos recursos temporais dedicados ao diálogo democrático. No imediatismo do sistema-mundo capitalista, aquilo que exige tempo é negligenciado e visto como um empecilho ao suposto desenvolvimento econômico e social. Portanto, o debate político, sobretudo nas redes sociais, prioriza o poder de convencimento dos argumentos baseados em ressentimentos, emoções e afetos, que impulsionam as campanhas de desinformação em busca de atingir determinados fins econômicos e políticos. No Sul Global, a promoção da desinformação tem como principal propósito a negação e o silenciamento da violência. A forma como a crise humanitária dos Yanomamis tem sido debatida nas mídias sociais demonstra essa realidade. Essa questão, entretanto, possui raízes que ultrapassam os acontecimentos do presente, tendo em vista que, na América Latina, o racismo ambiental opera como uma continuidade do processo colonial de perpetuação e silenciamento da realidade violenta imposta aos povos indígenas. Nesse contexto, busca-se responder se as campanhas de desinformação digital que relativizam, negam e deturpam a crise humanitária vivenciada pelos Yanomamis podem ser caracterizadas como uma modalidade contemporânea de conquista, na concepção terminológica de Mario Rufer. O objetivo desta pesquisa, que ainda está em andamento, é investigar de que forma esse fenômeno opera como silenciamento do modo de vida dos Yanomamis e quais parâmetros possibilitam sua caracterização como uma nova forma de conquista, fundamentada na violência que atenta contra sua existência, história e regime de temporalidade. Para tanto, está sendo realizada uma pesquisa bibliográfica e documental para compreender a crise humanitária vivenciada pelos yanomamis. Por meio do método hipotético dedutivo, sob um viés exploratório, busca-se construir aproximações teóricas com o conceito de conquista trabalhado por Mario Rufer e com a teoria crítica da aceleração social. A hipótese inicial deste trabalho é que a desinformação sobre os Yanomamis configura uma modalidade contemporânea de conquista colonial, pois visa negar a violenta realidade vivenciada e silenciar seu modo de vida com base numa perspectiva etnocêntrica. Além disso, espera-se constatar que uma das formas em que esse silenciamento opera consiste na imposição do regime temporal pautado pela aceleração social, representando, assim, uma violência institucionalizada. A relevância temática se justifica pela gravidade das violações contra os direitos humanos causadas pelas campanhas de desinformação e pela necessidade de entender como operam as formas contemporâneas de silenciamento e negação das violências sofridas pelos povos indígenas, especialmente pelos Yanomamis.