“SANACIÓN DE LA MEMORIA” COMO PRÁTICA DESCOLONIZADORA EM ACTORAS DE CAMBIO

Autores

  • Maria Gabriela Santana da Silva Universidade Estadual de Campinas
  • Carolina Cantarino Rodrigues

Palavras-chave:

MEMÓRIA, CURA, DESCOLONIZAÇÃO

Resumo

Objeto da pesquisa: O objeto desta pesquisa é investigar o conceito e a prática de “sanación de la memoria”, metodologia utilizada pelo coletivo de mulheres Actoras de Cambio (Guatemala), dedicado à cura do trauma colonial. A pesquisa faz parte de um projeto maior, intitulado “Memórias, Corpos e Subjetividades: experiências fronteiriças de escritas no Sul Global”, que interessa-se também pela metodologia do coletivo Encruzilhada Estrela Dalva (Brasil), dedicado à prática de escrita como processo de reelaboração de experiências relacionadas ao racismo. Esse projeto prevê, ainda, a realização de duas oficinas de escrita sobre memória colonial e cura, e uma revisão bibliográfica no âmbito dos principais estudos pós-coloniais e decoloniais. Como ponto de partida, no entanto, elegemos o conceito e a prática de “sanación de la memoria” como recorte do projeto supracitado para apresentar ao VIII Congresso Internacional de Direitos Humanos de Coimbra: uma visão transdisciplinar. Justificativa da relevância temática: Os chamados estudos pós-coloniais e decoloniais (BERNADINO-COSTA & GROSFOGUEL, 2016) emergem com o objetivo de observar quais as heranças da influência e domínio do colonialismo nas diversas dimensões da vida e da produção de conhecimento. Desses, alguns estudos propõem práticas de ressignificação da memória e do trauma: reimaginar o tempo, romper com o silêncio, com a separação entre o intelecto e o corpo (CÉSAIRE, 2006; FULCHIRON, 2017; CUSICANQUI, 2012), são alguns exemplos. A prática de “sanación de la memoria” é um trabalho político e emocional com mulheres vítimas da colonização durante um conflito interno na Guatemala que teve como uma das marcas mais profundas a violência sexual (FULCHIRON, 2017). Entende-se que, a partir das práticas, é possível interromper o desejo de vingança contra os agressores, criando condições para a não repetição. Diante dessa perspectiva, esta pesquisa se torna relevante para ampliar as discussões sobre a complexidade do funcionamento do colonialismo e de suas heranças, não se detendo em reproduzi-los, mas engajando-se ativamente nesse movimento. Hipóteses iniciais: Inspiradas pela metodologia de “sanación de la memoria” e pela escrita como ferramenta de reelaboração de experiências de racismo, partimos da hipótese de que a escrita pode servir como um instrumento de cura para corpos e subjetividades violentadas pelo trauma colonial. Considerando o recorte mencionado para o presente resumo, partimos do princípio de que a metodologia de Actoras de Cambio é relevante para a proposta do projeto maior, apresentado no início. Metodologia: Para colocar à prova tal princípio, adotaremos a cartografia como procedimento metodológico, buscando descrever as relações, associações, significados e sentidos que a própria pesquisa vai criando e perfazendo: desse modo, a adoção da cartografia buscará extrair as concepções em torno da relação entre memória, cura e descolonização que vão emergir da pesquisa junto ao coletivo Actoras de Cambio. Objetivos: O objetivo geral da pesquisa será explorar o conceito de “sanacion de la memoria”. Os objetivos específicos serão: uma entrevista com o coletivo sobre a metodologia e um levantamento bibliográfico no campo dos estudos pós-coloniais e decoloniais sobre a relação entre memória, corpo e subjetividade.

Biografia do Autor

Maria Gabriela Santana da Silva, Universidade Estadual de Campinas

É mestranda do Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e bacharela em Administração Pública pela Universidade Estadual de Campinas, com período sanduíche em Filosofia pela Universidad de Zaragoza (2022). Realizou pesquisas sobre feminismo e práticas decoloniais; pós-colonialismo; participação social e transparência no setor público; periferia e modos de produção de conhecimento; e tecnologias sociais. Foi estagiária do programa de Advocacy e Pesquisa da Open Knowledge Brasil, atuando nas temáticas de governo aberto e advocacy. 

Carolina Cantarino Rodrigues

Professora da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), do Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (ICHSA-FCA-UNICAMP) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS), do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH-UNICAMP). É Coordenadora Adjunta da Diretoria de Cultura (DCult) da Pró-Reitoria Extensão e Cultura (ProEC) da UNICAMP. É membro da Comissão de Diversidade Étnico Racial (CADER) da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH) da UNICAMP. É bacharel em Sociologia e Ciência Política (1998), Mestre em Antropologia Social (2004) e Doutora em Ciências Sociais (2011), pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Especialista em Jornalismo Científico (2004), fez pós-doutorado no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor-UNICAMP) onde atuou em diversos projetos de pesquisa e extensão. Atualmente faz parte do grupo de pesquisa Rede Latinoamericana de Divulgação Científica e Mudanças Climáticas (Rede DCMC) que reúne pesquisadores de diversas instituições de ensino superior do Brasil e América Latina. Participa do tema integrador "Comunicação e educação para sustentabilidade" do INCT Mudanças Climáticas. Também é pesquisadora do "multiTÃO: prolifer-artes sub-vertendo ciências e educações", coletivo transdisciplinar que aposta em experimentações com imagens, mídias, artes, filosofia, comunicação, educação e ciências, tanto na pesquisa, quanto na criação de artefatos de divulgação científica; e integrante do grupo de pesquisa Informação, Comunicação, Tecnologia e Sociedade (ICTS-UNICAMP). Tem experiência em pesquisa na área Interdisciplinar (Artes, Ciências e Tecnologias), nas Ciências Sociais, com ênfase em Antropologia Social (Antropologia da Política; Antropologia da Ciência e da Tecnologia), na área de Comunicação (Jornalismo e Divulgação Científica e Cultural). Suas publicações abordam os seguintes temas: ações afirmativas e políticas públicas; políticas da identidade e da diferença; regimes de percepção do tempo e memória; artes, ciências e tecnologias; experimentações metodológicas; biotecnologias e mudanças climáticas. Como jornalista, possui dezenas de publicações relacionadas à cultura, ciência e tecnologia. É editora da Revista ClimaCom - pesquisa, jornalismo e arte (ISSN 2359-4705).

Publicado

03.10.2023

Edição

Seção

SIMPÓSIO On83 - MULHERES: RESISTÊNCIAS, LUTAS E MEMÓRIAS