DISCURSOS SOBRE A RECONSTRUÇÃO DO TRABALHO PARA/NO ENSINO MÉDIO BRASILEIRO (2009-2019)
Palavras-chave:
ENSINO MÉDIO; DISCURSO; TRABALHO; NEOLIBERALISMO; CURRÍCULO.Resumo
O objeto de pesquisa e o campo de análise, a partir do qual se desenvolve este trabalho, configuram-se nos contornos da política curricular como derivação das políticas educacionais. Cujo objetivo é desvelar os discursos da relação educação- trabalho, em textos/documentos curriculares para/no novo ensino médio brasileiro (2009-2019), a saber: Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI, 2009), Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (2010), Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para o Ensino Médio (2012), Lei 13.415 sobre a Reforma do Ensino Médio (2017) e Base Nacional Comum Curricular para o Ensino Médio (2018). A pesquisa estrutura-se a partir da análise da produção discursiva. Operamos, essencialmente, com o léxico de conceitos bourdesianos (campo, habitus, capital), a fim de desvelar aquilo que é tido como natural no campo das políticas curriculares para o ensino médio. Neste ponto, destacamos a originalidade do trabalho, pelo exercício de cruzamento entre os campos da Sociologia do currículo e da Sociologia bourdesiana. Pelo empenho de construir diálogos compatíveis, necessários e urgentes. As análises apresentadas se constroem a partir do mapeamento e análise da produção de discursos para o ensino médio, em documentos curriculares oficiais, que entram em curso fomentando mudanças de orientação, de organização e de proposição de formação, como característica do exercício de produção ideológica. Partimos da premissa de que as políticas curriculares colocadas em curso visam facilitar/consolidar, eficientemente, “outra” preparação para o mercado de trabalho e, particularmente, no Ensino Médio Brasileiro (EMB). Temos apreendido sua condição de instrumento ideológico para veicular uma visão tecnocrática da sociedade por meio da chamada pedagogia das competências.A veiculação de uma visão tecnocrática da sociedade se institui por meio do atrelamento discursivo entre a pedagogia das competências e a reconstrução do trabalho, no interior das políticas curriculares. A formação de nível médio é reformada, a partir da seleção de competências consideradas válidas neste momento da história, sob a promessa de empregabilidade dos sujeitos. O mesmo discurso que advoga em defesa das competências, o faz usando como justificativa as incertezas do mercado de trabalho. Incertezas como: sua configuração nas próximas décadas; profissões requeridas; profissões que deixarão de existir; profissões que passam a existir; saturação dos diferentes segmentos; dentre inúmeros outros. Longe de respostas, o que vemos é uma falácia. Uma política curricular centrada em competências para, em tese, corrigir desigualdades, promovendo inserção no mercado de trabalho. Mas ao esvaziar o currículo de conhecimentos, faz justamente o contrário, promovendo no ensino médio a cultura cultivada da treinabilidade.A reconstrução do trabalho se dá por meio do conhecimento no interior da chamada Sociedade do Conhecimento. Em que pese às diferenças de projetos dos governos pelos quais tomou forma o “novo” ensino médio, as análises dão mostras da existência de anúncios de renovação e ineditismo histórico, que apontam para o esforço de colocar o país na rota do desenvolvimento, sob os alicerces da Sociedade do Conhecimento.