A COLONIZAÇÃO COMO CONTRIBUIÇÃO DA OBJETIFICAÇÃO DO CORPO DA MULHER PRETA NA SOCIEDADE BRASILEIRA

Autores

  • Magali Oliveira FACULDADE DE DIREITO DE VITÓRIA - FDV
  • Cassius Guimarães Chai

Palavras-chave:

COLONIZAÇÃO; CORPO; MULHER; PRETA.

Resumo

A pesquisa busca problematizar em que medida a colonização contribuiu para a objetificação do corpo da mulher preta na sociedade brasileira, no recorte teórico de Frantz Fanon, na dialética entre colonizador e colonizado. Pelo olhar do autor, o negro possui um complexo de inferioridade de homem colonizado, que deseja ser branco. Tal aspiração é fruto de uma sociedade que torna possível tal complexo quando afirma a superioridade de uma raça. A civilização europeia, impôs como padrão aceitável, desenvolvido e civilizado, o homem branco, ao qual compete o “fardo” de educar e fazer progredir tudo aquilo que não é Ocidente. No Brasil, não foi diferente e às custas de sangue e morte, impôs a escravidão ao povo indígena e, em maior proporção, ao povo preto que era sequestrado de seu país de origem e trazido para aqui trabalhar gratuita e incansavelmente.  Como seres bárbaros, atrasados e desprezíveis, o povo preto foi rotulado como inferior e, até mesmo, como ser perigoso, que ainda depois de liberto, se viu cercado pela criminalização de sua cultura, forma de vida e religião. Para a mulher preta, um destino ainda pior, somado ao trabalho intenso, nos campos e no âmbito doméstico, junto a sinhá, como ama de leite ou dama de companhia, lhe foi reservada a objetificação completa de seu corpo. O poder do senhor feudal foi marcado em sua pele através dos estupros forçados. Com a adoção do método dedutivo, uma abordagem qualitativa e pesquisa de revisão bibliográfica como método, discutiu-se assim o apagamento do colonizado e os (des)frutos da colonização brasileira, sobretudo no que tange ao imaginário coletivo sobre o povo negro, que ainda reflete na contemporaneidade, restando comprovada a hipótese de que a utilização do corpo do povo escravizado, visto como mercadoria, impôs às mulheres pretas, a ideia de hipersexualização ante os inúmeros estupros sofridos pelos senhores que afirmavam seu poder dentro do sistema patriarcal, através da violência. Tal categorização ainda é viva na sociedade atual, que por meio das mídias sociais e televisivas erotizam a mulheres pretas, as quais se demonstram como maiores vítimas de violência doméstica e estupros que assolam nosso país. Como sugestão de mudança de paradigma, Fanon entende que a sociedade deve buscar mudar suas estruturas sociais, onde o negro não pode mais se ver colocado diante do dilema de branquear-se ou desaparecer, mas sim, deve poder tomar consciência de uma possibilidade de existir. Necessário se faz um movimento de restituição do poder das vozes negras sobre os seus próprios processos, a fim de romper um cerco de abafamento produzido pelo homem branco. Em consonância, entendemos a necessidade de ressignificação da posição da mulher preta no cenário atual, principalmente através de sua libertação por meio do conhecimento histórico acerca de expressiva contribuição de suas lutas para a construção desse país, sendo inegável que a constituição do povo brasileiro se deu à custa de muito sangue e suor da mão-de-obra escrava, que fez e ainda faz engradecer economicamente, culturalmente e intelectualmente esse país tão diverso.

Publicado

03.10.2023

Edição

Seção

SIMPÓSIO On53 - MINORIAS SEXUAIS E DE GÉNERO