A CONSTRUÇÃO COLABORATIVA DE UM CURRÍCULO ORIENTADO PELA BUSCA DA IGUALDADE E EQUIDADE

Autores

  • Patrícia Cintra PUC - SP

Palavras-chave:

CURRÍCULO; FORMAÇÃO HUMANA; COLABORAÇÃO CRÍTICA.

Resumo

O currículo é um espaço de lutas e poder (APPLE, 1982). Compreender o contexto de forças e interesses que gravitam sobre ele é essencial para entendermos as escolhas que estão presentes e que respondem: para que, para quem e a favor de quem o currículo foi pensado. Neste sentido, relatarei como foi construído um currículo colaborativo, com foco no desenvolvimento de sujeitos sensíveis às desigualdades sociais, que discutiu as conexões históricas e decoloniais, acolheu múltiplos olhares, incluindo vozes diversas e singulares (como vozes indígenas e negras), em busca de abrir brechas (WALSH, 2020) e criar possibilidades para o bem viver (KRENAK, 2020). O objetivo foi criar um currículo como um instrumento de poder para agir em função da democracia, liberdade e justiça para todos. Inspirada em Paulo Freire (2003, p. 16) "para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de agir e refletir. É preciso que seja capaz de, estando no mundo, saber-se nele", 12 profissionais foram envolvidos num processo de colaboração crítica (MAGALHÃES e FIDALGO, 2010), com atividades de pesquisa e discussão para a elaboração de 20 livros didáticos (nos componentes curriculares de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza) ao longo do 2º semestre de 2020 a dezembro de 2022 para os alunos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental (estudantes de 6 a 11 anos) numa escola da rede privada na cidade de São Paulo, Brasil. Tendo o professor como principal ator, foram criados encontros semanais de reflexão ao longo de dois anos para que esses sujeitos pudessem, ao imergir nas discussões históricas e sociais, criar condições para a elaboração de um currículo que pudesse, por meio de uma ação crítica, denunciar, mas também anunciar possibilidades de transformação no ensino. Nesse processo, o conceito de justiça curricular (PONCE, 2018) esteve sempre presente, no sentido de que a justiça seja ampliadora e não restritiva, "onde a exigência de justiça não signifique nenhuma limitação da liberdade, e a plenitude da liberdade não signifique nenhuma restrição do dever de justiça" (FREIRE e BETTO, 1997, p. 95). Houve uma intensa busca para que o currículo construído pudesse cumprir uma função social de escolha do conhecimento, tendo como critérios um sujeito reflexivo e com uma formação humana voltada para a dimensão do cuidado. Isso se justifica pelo fato de que é necessário olhar para a condição do ensinar e do aprender, não separando corpo e mente como pressupostos espinosanos. Nesse sentido, o currículo desenhado aponta para possibilidades de superação das desigualdades, com conteúdos sensíveis às discussões e à ampliação do olhar desse estudante para além do seu espaço de vivência. Um currículo em direção às possibilidades de ampliação do conhecimento e também de experiências do viver democrático, contribuindo com a formação de indivíduos que, ao refletirem sobre as desigualdades, também possam lutar contra elas.

Publicado

03.10.2023

Edição

Seção

SIMPÓSIO P19 - DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO, PESQUISA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES