“PAZ SEM VOZ, NÃO É PAZ, É MEDO”
EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS NO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA ESCOLAR
Palavras-chave:
VIOLÊNCIA ESCOLAR; DIREITOS HUMANOS; DIVERSIDADE; CIDADANIA; HISTÓRIA.Resumo
Os recentes ataques às escolas brasileiras levaram a uma crescente mobilização social em torno da cultura de paz. O presente artigo traz reflexões que emergem desse contexto, no qual, educadores e educadoras, alvos dessa violência, assumem o desafio de incorporar ações, no processo educativo, capazes de enfrentar os mais diversos tipos de violência que atingem o espaço escolar. Os ataques noticiados revelam um vínculo com histórias de violação de direitos humanos no espaço escolar, que os antecedem. Muitos deles apontam motivações relacionadas a casos de racismo, sexismo, LGBTfobia, classismo, intolerância religiosa, bullying e com os mais diversos tipos de discriminação e preconceitos. A constatação reforça a necessidade de incorporar, aos projetos de cultura de paz, já desenvolvidos em muitas escolas, uma perspectiva de educação em direitos humanos. Esta, por sua vez, não pode ser dissociada de uma educação para a diversidade e para a cidadania, já contempladas, nos currículos da educação básica, como eixos transversais. Defende-se, aqui, a necessidade de trazer para o centro, o que atravessa o currículo, de forma multidisciplinar, contínua e permanente. Para além das palestras, tradicionalmente promovidas, pelas escolas, e ações pontuais sobre esses temas, faz-se necessário a construção de espaços que efetivamente garantam a escuta ativa e a fala dos estudantes, sujeitos fundamentais no enfrentamento à essas violências e na promoção pelos direitos humanos. A discussão apresentada brota do chão de uma escola pública da capital federal, mais precisamente, da sala de aula de uma professora de história que tece, nas redes desse ensino, possibilidades para historicizar, refletir e combater as violências socialmente enraizadas e reproduzidas na escola. Os dados apresentados, parte de uma pesquisa-ação, constam em relatórios produzidos sobre rodas de conversa promovidas com estudantes do 8º ano do ensino fundamental, por ocasião de ataque à uma escola de São Paulo que culminou com a morte de uma professora. O motivo, segundo as reportagens, associa-se a um caso de racismo, envolvendo o estudante de 13 anos, responsável pelo ataque. Utilizado como estudo de caso, o fato possibilitou a problematização da violência como decorrência do racismo, que permeia o ambiente escolar, compreendendo-o não como um episódio, mas como estrutura da sociedade brasileira. Conduzida por uma discussão que recorreu à história do racismo e às leis que o criminalizam no Brasil, a roda de conversa teve por objetivo provocar a reflexão sobre as diversas violências que permeiam o ambiente escolar, a partir da sensibilização oriunda do impacto da notícia. Os debates, possibilitados pela construção desse espaço, conduziram os/as estudantes a olhar, com mais seriedade e responsabilidade, para as violências tratadas como “brincadeiras” no âmbito escolar, colocando-se como parte do enfrentamento à essas violências, a partir do respeito às diferenças, imprescindível na garantia dos direitos humanos. Desafiados a incorporar as questões da diversidade, da diferença e da inclusão em suas reflexões, os estudantes protagonizam a reconstrução das relações do espaço escolar, a partir de uma convivência mais harmônica (com paz), mas sem abrir mão de sua voz.